Tuesday, December 28, 2010

sobre as vacas e os comboios da Índia

Nem tudo o que se passa
pode ser escrito, eis o que já sabíamos
in Uma Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares

Tinham-me dito para estar preparada para tudo e mais alguma coisa, para muita miséria, para gente diferente. mas muitas vezes as palavras não se medem ou não se julgam tão fiéis à realidade. Ou, simplesmente, não há palavras que sejam suficientes para descrever uma realidade que rompe com tudo o que conhecemos, que vai além da própria ficção que vemos contada em prosa ou na tela do cinema.
E por isso não tento descrever, porque eu própria tenho a noção de que as palavras não chegam.
Imagens valem certamente muito mais mas, ainda assim, não chegam. É preciso ver, viver, sentir, cheirar. A Índia teve a capacidade de inspirar em mim sentimentos ou sensações que nem sabia que existiam. E isso é bom, sem dúvida, chegando a ser paradoxal. Pela positiva e pela negativa, para o bem e para o mal, experimentar os limites da mente humana e perceber que aquela história de abrir os horizontes até tem o seu quê de verdade. Ali, nada é impossível, tudo existe, tudo se cria ou transforma, tudo se torna realidade (embora às vezes não pareça). Ali as regras reinventam-se a cada momento, tudo são meios para atingir os fins, e o caos é dissimuladamente organizado - pelo menos, o suficiente para que as coisas funcionem.

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